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A depressão é uma doença também profissional

 

Eu quero falar sobre depressão como ouvi de alguém: “ A dor da alma”.

Não há palavras para quem tem que explicar os sintomas, os sinais.

Sei que a primeira vontade que tem o portador de depressão é de não existir.

Sei que o que para alguns é frescura e podem ser pequenas coisas, para o portador de depressão tem uma intensidade e um tamanho imensurável, que consome sua alma e seu espírito.

Sei que levantar pela manhã e seguir é uma maratona, um exercício e compromisso com Deus, indescritível.

Sei que manter o sorriso na face enquanto sua vontade é chorar incessantemente para que as pessoas não sintam pena de você.

Sei que sua autoestima vai ao chão, e você não se incomoda de estar bem vestida, combinando roupas, ser elegante.

Aí você consegue aos trancos e barrancos, através da força de Deus; de Deus lhe carregar nos braços nos momentos mais difíceis, apresentar uma relativa melhora, você pensa: até que enfim estou curada. Mas aí você lembra que toma vários remédios, que faz terapia, e acima de tudo que na realidade o que você tem é seu compromisso real e absoluto com quem lhe deu a vida: Deus.

Depois você tenta a todo custo enumerar e até escrever para não esquecer que você tem pessoas que te amam, pessoas que te admiram, pessoas que precisam de você, aí mais uma vez você chora e Deus fala no seu coração: “ Eu coloquei essas pessoas no seu caminho, eu sou o seu Deus e Senhor, eu lhe dei a vida, confia levanta-te e anda”.

Então aí você levanta, faz suas atividades matinais de rotina, se arruma, segue e se esforça para ter no rosto o sorriso que também já ouvi, “ é sua marca registrada”. E você junta todas essas coisas boas e diz ao inimigo que usa pessoas para lhe derrubar: eu sou filha de Deus. Você não vai me tocar, Deus não permitirá que você destrua a criatura d’Ele.

É mais ou menos assim que funciona a depressão aos que conseguem lutar diariamente contra ela.

Infelizmente, para tristeza dos céus e de Deus, têm pessoas que não conseguem manter essa luta diária e permanente e ceifam sua vida.

É aqui que quero fazer o gancho às situações de trabalho como falta de respeito, a falta de entendimento e compreensão, o assédio, etc. Que fazem com que todos os sintomas e sinais, se exacerbem e você não consiga realizar suas funções e atividades profissionais com concentração e a responsabilidade que sua profissão exige.

E aí ela passa a ser uma doença também profissional. Hoje são 322 milhões de pessoas no mundo com depressão, 17% da população mundial já teve vontade de morrer. É uma estatística extremamente preocupante.

Fato que precisa ser investigado minuciosamente pelos órgãos responsáveis pela saúde do trabalhador e tomar medidas urgentes que tenham impacto real com respostas positivas que venham a diminuir de forma visível essa estatística.

Essa luta esbarra na falta de responsabilização e compromisso dos gestores políticos e administrativos com a política de Saúde do Trabalhador que como tudo nesse país, tem uma magnitude no papel, mas ao sair dele para prática, perde 50% a 60% do pré-estabelecido; pelo descaso, pela corrupção, pela falta de compromisso legal, pela forma injusta que jugam através do entendimento judicial da legislação.

E quem sou eu para falar em legislação? Não sou advogada, não tenho formação na carreira jurídica, mas já fui vítima de vários entendimentos errados do juiz, e conhecedora de inúmeras falhas na nossa justiça, seja civil, seja do trabalho.

Assim é feita a ponte desse estigma social chamado depressão à saúde do trabalhador. E que fique bem claro não precisei chegar a ser portadora desse mal, para ter o maior respeito por essas pessoas, nem também de ter tido a oportunidade de acompanhar enquanto profissional pacientes e em alguns casos vê-los evoluir ao abandono de si e a consequente fatalidade da morte.

É necessário disponibilizarmos mais divulgações e orientações técnico-científicas para toda população, para que todos tenham a capacidade de perceber as mudanças de comportamento dos seus familiares, nos seus colegas de trabalho, nos seus pacientes, em todos que o rodeiam e assim poder chegar antecipadamente com ações que venham a tratar precocemente e evitar as consequências desse chamado Mal do século.

Antônia Iara da Silva Mendes.

 

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